terça-feira, 17 de março de 2020

Brasileiro retido em campo de quarentena no Vietnã: ‘desespero’



Ricardo e Beatriz Riedel: classificados no grau mais alto de ameaça de contaminação, apesar de não terem entrado em contato direto com nenhum infectadoO casal de brasileiros Ricardo e Beatriz Riedel está retido em um campo de quarentena para estrangeiros com suspeita de contaminação por coronavírus no Vietnã desde a última sexta-feira 13, apesar de seus exames terem atestado negativo para Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Nas instalações do Exército vietnamita em que são mantidos, os brasileiros não recebem respostas sobre quanto tempo ficarão isolados e temem ser infectados pelas demais pessoas confinadas no local.
“Estamos bem de saúde neste momento, mas nosso maior medo é sermos infectados se permanecermos aqui”, diz Ricardo Riedel, de 66 anos, que se preocupa com o fato de ele e sua mulher, de 65 anos, estarem no grupo considerado de risco para a doença. “Há mais de 250 pessoas neste campo e não sabemos quem está contaminado ou não”.
Os brasileiros naturais de São Paulo foram classificados no grau mais alto de ameaça de contaminação pelas autoridades vietnamitas, apesar de não terem entrado em contato direto com nenhum infectado. Ricardo e Beatriz, contudo, fizeram uma viagem de barco de três dias com dois britânicos que, antes, haviam pegado um voo no qual uma comissário de bordo foi diagnosticada com Covid-19.
“Houve um erro de classificação, pois não deveríamos ter sido enquadrados como risco alto”, diz Riedel, dono do Grupo Editorial Pensamento. “Os britânicos, sim, mas nós não tivemos contato com ninguém infectado”.
Os dois ingleses, que foram levados ao mesmo campo de quarentena que os brasileiros, também receberam resultados negativos para a contaminação. Nenhum estrangeiro retido no campo de quarentena recebe justificativa sobre o porquê ainda são mantidos em isolamento ou sobre quando serão autorizados a sair. Ao todo, o Vietnã tem atualmente 57 casos de coronavírus confirmados e nenhuma morte.
O local da quarentena forçada é uma instalação do Exército vietnamita, ao sul da cidade de Ho Chi Minh, que foi desocupada para abrigar os estrangeiros durante esta pandemia de coronavírus. Os paulistanos relatam que os funcionários locais não falam inglês e que que tornou-se impossível a comunicação com os responsáveis pelo campo.
“O lugar é extremamente precário, tem gente dormindo até em esteiras por falta de camas”, relata Ricardo. “A temperatura é constantemente de 38 graus, tem insetos o tempo todo, e não conseguimos fechar as janelas. Procuramos não sair do quarto para evitar contato com as outras pessoas, mas é como se estivéssemos enjaulados. Estou desesperado, pois estou sendo discriminado por algo que não tem a ver comigo”.

Os brasileiros dividem um quarto, com camas, com dois americanos. Eles têm acesso a um banheiro unissex, que é usado por, pelo menos, outras 30 pessoas. As três refeições diárias são servidas por funcionários equipados com roupas de proteção nos quartos.
“A sujeita é enorme, nós mesmos temos limpado os banheiros para conseguirmos usá-los”, diz. “A comida também é intragável. Estamos sobrevivendo apenas com frutas, sucos e pães que a agência de turismo tem conseguido nos enviar”.
Campo de quarentena na cidade de Ho Chi Minh: mais de 250 estrangeiros isolados, banheiros unissex para 30 pessoas e esteiras para quem não conseguiu uma cama© Arquivo Pessoal/Reprodução Campo de quarentena na cidade de Ho Chi Minh: mais de 250 estrangeiros isolados, banheiros unissex para 30 pessoas e esteiras para quem não conseguiu uma cama
A Embaixada do Brasil em Hanói já foi acionada para tratar do caso e está em contato com o casal e com as autoridades locais. Em nota, o Ministério de Relações Exteriores afirma que trabalha para “tentar garantir aos brasileiros as melhores condições possíveis”.
Questionada sobre a situação, a Embaixada do Vietnã em Brasília afirmou que ainda reúne informações sobre o caso. Um funcionário da representação diplomática disse ainda que as instalações do Exército foram esvaziadas para “maior conforto” dos estrangeiros em quarentena e classificou os campos de isolamento como “bons”.

O caso

O casal de brasileiros desembarcou no Vietnã para uma viagem de férias na última segunda-feira 9, após fazer escala em Doha, no Catar. Em seus primeiros dias no país, eles fizeram um passeio de barco de três dias pela Baía de Ha Long, organizado por uma agência de viagens.
Além dos brasileiros, outros oito turistas estrangeiros fizeram a viagem náutica com a mesma agência – entre eles os dois britânicos que pegaram um voo anterior com um comissária que foi posteriormente diagnosticada com coronavírus. Após os três dias de viagem, o grupo embarcou em um voo da Vietnam Airlines para a cidade de Ho Chi Minh, onde continuaria seu roteiro. Entretanto, antes de desembarcarem da aeronave, os passageiros foram interceptados pelas autoridades locais e transferidos em ambulância para um hospital.
Após passarem pelo exame de coronavírus e terem sua temperatura e pressão medidas, foram encaminhados para o campo de quarentena. Os turistas têm acesso aos seus pertences no local e são autorizados a usar celulares e outros equipamentos eletrônicos.
Depois de sua passagem pelo Vietnã, Ricardo e Beatriz planejavam continuar a viagem no Camboja, de onde embarcariam de volta ao Brasil. O casal tem uma passagem de volta, com escala no Catar, comprada para o dia 26 de março.
“Pensamos muito antes de confirmar nossa viagem, mas como no Vietnã não havia muitos casos e nenhuma morte, julgamos que não haveria problema”, diz Ricardo. “Além disso, não fizemos escala em nenhum país da Europa, onde a situação está se agravando”.
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VEJA.com

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