sexta-feira, 1 de maio de 2020

Por que a Bélgica tem a maior taxa de mortos por coronavírus do mundo

A Bélgica sofreu o pico da pandemia por coronavírus por volta de 12 de abril passado
© Getty Images A Bélgica sofreu o pico da pandemia por coronavírus por volta de 12 de abril passado


A Bélgica tem menos da metade das mortes dos países mais afetados pela pandemia de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. No entanto, sua taxa de mortalidade por essa doença é a mais alta do mundo.
Essa disparidade tem sido chamada de paradoxo da Bélgica, que até terça-feira, 27 de abril, havia registrado mais de 7,2mil mortes por covid-19.x
E, embora esse número esteja longe das mais de 55 mil mortes que os Estados Unidos haviam confirmado até então ou das mais de 20 mil na França, Reino Unido, Itália ou Espanha, a Bélgica tem o pior índice de óbitos por grupo de 100 mil habitantes.
De acordo com a Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, na Bélgica, 62 pacientes de covid-19 morreram para cada 100 mil pessoas. A população total do país é de pouco mais de 11 milhões de habitantes.
Nos EUA, que registraram o maior número de mortes por coronavírus no mundo, morrem 17 pessoas por cada 100 mil habitantes.
A alta taxa de mortalidade belga se deve à maneira como o país europeu passou a contar as mortes causadas pelo patógeno.
A Bélgica contabiliza não apenas o número de mortes confirmadas por coronavírus, mas também todos os casos suspeitos, incluindo todas as mortes ocorridas em casas de repouso.
Esse é um método diferente do usado por muitos dos países mais afetados pela pandemia, que contam apenas mortes por coronavírus que ocorrem em hospitais.
Na Bélgica, segundo dados oficiais, 62 pessoas morrem de covid-19 para cada grupo de 100 mil habitantes© Getty Images Na Bélgica, segundo dados oficiais, 62 pessoas morrem de covid-19 para cada grupo de 100 mil habitantes

'Ação imediata'

Cada país tem uma maneira diferente de contabilizar as mortes causadas por covid-19. No entanto, existe um padrão: a maioria contabiliza os falecidos que foram submetidos ao teste e deram positivo para o coronavírus.
O Ministério da Saúde da Espanha, por exemplo, conta de maneira regular apenas as mortes por coronavírus ocorridas em hospitais.
A Itália, por outro lado, conta aqueles que testaram positivo para o vírus, independentemente de a causa principal do óbito ter sido coronavírus ou outra condição.
A França fazia o mesmo, contando os mortos em hospitais. A partir de 2 de abril, no entanto, o país começou a incluir em seus relatórios as mortes em lares de idosos.
É assim que a Bélgica faz. O governo considera que a contagem de mortes confirmadas e também suspeitas torna possível combater melhor a doença.
A Bélgica passou a contar mortes suspeitas como óbitos causados por covid-19© Getty Images A Bélgica passou a contar mortes suspeitas como óbitos causados por covid-19
"Quando você não tem capacidade para testar todos, é muito importante contar as mortes que têm a covid-19 como causa provável", disse à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, o epidemiologista Steven Van Gutch, responsável pelo comitê científico do governo contra o coronavírus na Bélgica.
"A única diferença entre nós e outros países é que contamos os casos mais amplamente, o que nos permite tomar medidas imediatas", acrescenta Van Gutch.
O especialista explica que, devido a esse sistema "expansivo" de contabilização de mortes, o país foi capaz de detectar surtos de coronavírus em casas de repouso. "Graças ao nosso sistema de contagem, conseguimos resolver esse problema a tempo", diz ele.
Em 15 de abril, fontes oficiais revelaram que quase metade das mortes por coronavírus na Bélgica ocorreu em casas de repouso.

Debate interno

No mesmo dia 15, a primeira-ministra da Bélgica, Sophie Wilmès, explicou no Parlamento que "o governo decidiu ser completamente transparente ao relatar as mortes relacionadas à covid-19, mesmo que isso tenha causado um exagero nos números".
No entanto, o fato de a Bélgica estar no topo da taxa de mortalidade por coronavírus em todo o mundo foi analisado com reservas por outros especialistas.
A primeira-ministra da Bélgica, Sophie Wilmes, defendeu o método de contagem de mortes por coronavírus em seu país© Getty Images A primeira-ministra da Bélgica, Sophie Wilmes, defendeu o método de contagem de mortes por coronavírus em seu país
O virologista belga Marc van Ranst criticou duramente o sistema de contagem do governo em um programa de televisão local.
"Quase todo mundo que morre em casas de repouso, que geralmente são 100 pessoas por dia, em média, está sendo incluído nessas estatísticas. Acho isso um pouco estúpido", disse Van Ranst.
Steven van Gutch, que relata diariamente os números dos coronavírus na Bélgica, reconhece que o método foi criticado, mas acredita que isso será temporário.
"Pode parecer que temos uma taxa de mortalidade muito alta, mas, na realidade, nossos dados são comparáveis aos da França ou do Reino Unido, por exemplo. Quando os dados desses países (o Reino Unido contabilizava apenas os mortos em hospitais) forem revisados, veremos que as taxas de mortalidade são parecidas", estima Van Gutch.
"Entendo que alguns podem estar assustados, mas apenas tentamos ser o mais transparentes e honestos possível. Talvez tenhamos superestimado o número real de mortes, mas isso nos parece melhor do que fazer o contrário", acrescenta o cientista.
'As unidades de terapia intensiva belgas não excederam 58% de sua capacidade'© Getty Images 'As unidades de terapia intensiva belgas não excederam 58% de sua capacidade'

Cenário real

O fato de a maioria dos países contar apenas aqueles que apresentaram resultado positivo para coronavírus pode ocultar um número realmente maior de mortes.
De acordo com uma análise recente do jornal Financial Times, o número total de óbitos por covid-19 em todo o mundo pode ser 60% maior que os dados oficiais apontam.
Esse é o cenário que o governo belga deseja evitar. "Se você conta apenas mortes em um hospital, é como fechar um olho e apenas olhar o cenário com o outro", diz Van Gutch.
"Sim, nossa contagem nos torna o país com a maior taxa de mortalidade, mas nossas unidades de terapia intensiva, mesmo no pico registrado em 12 de abril, não excederam mais de 58% de sua capacidade", afirma o especialista.
© BBC
© BBCBBC News


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